quarta-feira, 10 de junho de 2020

Ainda em casa? Crônicas sobre a pandemia.


Vitor de 4 anos, aluno de EMEI, chega para a mãe pergunta:

-A escola acabou?

- Não Vitor, ela ainda está lá te esperando. Mas temos que esperar a pandemia passar.

- E essa pandemia não sabe correr?

Depoimento de Noêmia, mãe do Lucca 10, Vitor 4 e Mariana 1.

 

Duda de 5 anos, aluna de escola particular, pergunta:

- Quando a professora vai para de brincar no computador e vai para a escola?

A mãe argumenta:

-Ela não está brincando no computador, ela está trabalhando na casa dela.

-E quando ela vai parar de trabalhar e vai para a escola?

Depoimento de Valquíria, mãe de Pedro, 12 anos e Duda, 5.

 

Noêmia e Valquíria, são clientes de nossa Clínica e enviaram estes relatos por mensagem. Neste contexto, chega a ser engraçado a colocação de Vitor que personificou a pandemia, querendo saber o motivo de tanta demora para voltar à sua rotina escolar. Duda por sua vez, ainda não compreende sobre o trabalho da professora na escola ser o mesmo (ou deveria) online. Crianças de realidades diferentes, mas que buscam compreender ao seu modo o que está acontecendo. Assim como eles, muitas crianças que estão na educação infantil ainda não conseguem compreender direito o que está acontecendo e porque demora tanto para irem à escola, ao shopping, à praia, ao parque, ver os amigos, porque as aulas são no computador, etc.

Como já mencionado em outra publicação, o importante é tentar repassar às crianças, informações sobre a situação, mas de maneira que elas possam não somente compreender, mas agir sobre a informação. Como assim? Ao falar para uma criança entre 3 e 6 anos sobre a pandemia, é preciso lembrar que de acordo com o Estágios de Desenvolvimento Cognitivo de Jean Piaget (1952), esta criança se encontra no período Pré-operatório. Ou seja, a criança desenvolve um sistema representacional e utiliza símbolos para representar pessoas, lugares e eventos. Dessa maneira, simplesmente falar não adianta, é preciso criar mecanismos que ajudem a representar, a simbolizar uma situação para que elas possam compreender de maneira mais assertiva. Algumas dicas são utilizar histórias, fábulas e desenhos para auxiliar nesta situação.

 Por exemplo: Conte uma história para a criança e peça a ela que imagine que o Covid19 seja um vilão que tem o poder de estar em toda a parte, e que precisa se alimentar de peixinhos de um rio. Os peixes sabendo que tem alguém querendo devorá-los no rio, irão sair nadando livremente ou irão preferir ficar em casa até que o vilão seja eliminado? 

Bom, ainda não apareceu um herói para salvar os peixinhos, mas eles descobriram que usando sabão conseguem disfarçar o cheiro de peixe para o vilão não os descobrir e que usando máscaras, confundem o vilão, que não consegue ver direito o rosto dos peixinhos e por isso, eles terão mais chances de se salvarem se precisarem sair de suas casas para ir a algum lugar no rio. Mas nem tudo está perdido, disse um dos peixinhos. Em algum lugar que ainda não sabemos onde fica, tem um herói criando uma arma secreta para derrotar esse vilão, por isso não precisamos ter medo, só precisamos tomar os cuidados necessários para sair até que a arma secreta fique pronta.  

Para ajudar na compreensão, após a história, é possível pedir para as crianças desenharem os personagens da história, fazerem fantoches de papel e palito de sorvete, dramatizarem a história ou quem sabe, instigá-los com perguntas, como por exemplo:

- Se você fosse um dos peixinhos dessa história, como você reagiria se soubesse que tem um vilão que se alimenta de peixes à solta?

- Você avisaria seus amigos para que eles tomassem cuidado e também se disfarçassem usando máscaras ou sabão?

Outra saída é a utilização das bonecas ou de carrinhos, não importa muito o que irão utilizar, o que importa é a simbologia. Junto à criança, pergunte: Você sabe o que é uma gripe/resfriado? Se a resposta for sim, peça para te contar como é. Ajude a lembrar nomeando alguns sintomas. Se a resposta for não, peça para imaginar, utilizando o mesmo exemplo dos sintomas. Nada muito assustador. Junte os carrinhos ou as bonecas e diga: Temos aqui um carrinho/boneca muito gripado (coloque-o longe dos outros) e ele não sabe como melhorar. Mesmo assim ele saiu e encontrou os amigos (coloque perto dos amigos), que também pegaram sua gripe e agora estão também doentinhos.

Dê um jeito de colocar uma máscara de papel, só um modelo mesmo, sobre a parte da frente do carrinho ou da boca da boneca e diga:

-Este amigo aqui, vai encontrar aquele que ficou gripado primeiro. Observe a reação da criança! Continue e invente um diálogo entre os dois, mas que não envolva ainda a máscara. Depois desse encontro diga:

- Olha! Este aqui encontrou seu amigo, conversaram e ele não pegou a gripe, por que será?

Deixe que a criança elabore sua resposta. A partir daí você pode criar novos diálogos e ao invés de dizer os motivos, dar explicações sobre o tema, crie situações, diálogos, histórias para que a criança seja capaz de desenvolver a habilidade de dedução.

Estes são apenas exemplos de como podemos ajudar as crianças a compreenderem um pouco mais sobre a pandemia, de como é possível utilizar o lúdico para isso e para lembrar que a elaboração, o raciocínio das crianças depende do estágio do desenvolvimento infantil em que se encontram. Isso nos permite ter em mente qual seria a melhor forma de ajudar os pequenos a compreender diversas situações, que para nós pode ser simples, mas que para eles exige um outro tipo de investimento cognitivo. 

Para saber mais, entrem em contato conosco!

Autor: Alexandre Muniz – Psicopedagogo e Neuropsicólogo Clínico.

 


sexta-feira, 5 de junho de 2020

Uma ponta de empatia? Pequenos fragmentos do trabalho online de professores.




Relógio pronto para despertar. Entrar nos links (da escola, da SME, da DRE..) e ainda verificar se os alunos postaram as atividades para corrigir. Das 40 atividades esperadas, 12 foram enviadas, 5 incompletas, 20 disseram que enviaram e o restante não se manifestou. Volta para acompanhar a “LIVE” do Secretário, que diz uma coisa, o Governo determina outra e a gestão pede outra, geralmente conflituosa com as outras solicitações. Coloca o celular no carregador, abre notebook (quem tem), pesquisa, entra no link da escola, volta a olhar o celular, tenta acompanhar tudo e entre esse tudo, as informações de que as escolas irão reabrir em julho, não em agosto, não em junho mesmo. Entra no Chat, vê que o salário será congelado, que os direitos deixaram de ser direitos e as cobranças online são muito maiores que as presenciais. Volta para o link da sua unidade escolar, ouve da gestão que estão todos no mesmo barco (alguns em canoas outros em jangadas mesmo), respira fundo, volta para as atividades, atende pelo menos uns 10 pais que dizem não entender as atividades e que as crianças não precisam passar por isso, que os professores devem explicar direito a matéria, que eles não têm obrigação de parar o que estão fazendo para ajudar os filhos com as tarefas e dizem não encontrar as atividades enviadas pelos professores. Volta para o Chat, a conexão cai, os dados móveis são rapidamente sugados pelos aplicativos pesados que ele foi obrigado a baixar para ter acesso às orientações, reuniões e acompanhamento do trabalho da Rede. A conexão se restabelece, ele descobre que as escolas vão reabrir sem álcool em gel para todos, sem papel higiênico, papel toalha, sabonete líquido e com os mesmos 40, 45 alunos confinados numa sala de aula sem ventilador, ar-condicionado e sem sansões para quem não usar máscaras. Olha o celular e vê 57 mensagens do grupo da escola; 18 só da coordenação e mais umas 27 do grupo da família. Vai ao mercado com máscara e com a confiança de que o tíquete alimentação vai dar para ajudar a comprar alguns itens essenciais. Não deu, pois como está em casa, alguns órgãos reguladores de seu RH acreditam que não precisa do tíquete integral. Volta para casa, toma banho com água e sabão dos pés à cabeça, coloca as roupas para lavar e desinfeta os sapatos. Encosta um pouco para assistir ao jornal, mais de 27.000.00 mortos, o presidente querendo que a Economia se restabeleça, o Governador diz que não vai afrouxar o isolamento, mas recuar e abre primeiro os shoppings, o Prefeito, diz que há um escalonamento de reabertura gradativa para reabertura de estabelecimentos, mas sem uma fiscalização eficaz, muitos lugares já reabriram e ele nem sabe. Se alimenta, tentar interagir com a família, verifica o material enviado para preparar as aulas, entre em blogs e sites de educação, colhe material e vai dormir para descansar, afinal, amanhã será sábado e poderá descansar um pouco. O celular vibra, ele visualiza e recebe uma mensagem do grupo da escola: “Atenção professores, conforme o combinado, amanhã às 8hs teremos nosso Conselho de Classe. ”  Reclina na cama e sem o sono, que fugiu diante da nova informação, assiste ao último jornal da noite. Na tela, um parlamentar fala sobre a necessidade de gerar receita e que uma das saídas é o congelamento dos salários dos funcionários públicos. O professor lembra que estão há mais de 4 anos sem aumento e que nunca recebeu um reajuste integral, sempre foi fracionado por um período de tempo tão longo, que quando consegue receber a última incorporação daquele valor ao seu salário, já não consegue fazer muito. Finalizando a fala em meio uma reunião, o mesmo parlamentar chamas o funcionalismo público de parasitas. O professor, levanta toma um café, tentar relaxar e deita novamente. O relógio pronto para despertar o chama para mais um dia de desafios do trabalho em casa. Ele levanta, se apruma e se coloca novamente à serviço de sua escolha profissional, afinal por mais contas que ele tenha a pagar, ele assumiu uma responsabilidade para com seus alunos e com ele mesmo, o compromisso de fazer a sua parte e o seu melhor para a Educação, esteja ela como estiver.

Estes são apenas alguns fragmentos do que os professores estão passando neste período de pandemia, isolamento social e com a obrigação do trabalho online. Os alunos estão estressados com a quantidade de atividades, os pais estão estressados, a gestão e também os professores. Mas ao invés de procurarem desenvolver a empatia, muitos procuram apontar o dedo, ofender e despejar no outro o sentimento de raiva que se formou dentro de si por conta desse isolamento, bradando sem pensar em como o outro também está se sentindo. O professor nesse momento é cobrado pela gestão, pelos alunos, pelos pais, pela família e ainda é obrigado a lidar com informações desconexas sobre uma possível volta ao trabalho, sem respaldo algum para garantir a sua saúde física, mental e emocional, e dos demais que estarão aos seus cuidados. Antes de atacar, ofender, agredir e depreciar um professor, tente se colocar no lugar dele por pelo menos um dia!

Autor: Alexandre Muniz - Professor - Neuropsicólogo Clínico e Psicopedagogo


quinta-feira, 7 de maio de 2020

Quando falar é libertador. Uma crônica para Educadores.



Neste cenário de incertezas ocasionado pela pandemia e pela ingerência e muitos governantes, professores se veem desarticulados em sua atuação profissional. Lousa, giz, apagador, apostila já faziam parte de sua rotina semanal, e agora, vídeo-aulas tomam conta da rotina de pais, alunos e educadores. Tudo isso faz com que o professor se reconstrua e promova uma prática que ainda não domina. Como promover uma aula de qualidade, sanar dúvidas, participar de HTPC’s, acompanhar as mudanças diárias nas Portaria da SME’s, SEE’s e DRE’s, observar o sinal de wi-fi, bateria de celular, aumentar sem apoio financeiro seu pacote de dados e ainda por cima, lidar com toda uma nova rotina em casa, ocasionada pela mesma crise? Ah! Ainda tem filhos, marido/esposa e toda uma demanda emocional junto com toda essa nova configuração de trabalho em “home office”. Nome bonito para dizer: Se vira nos trinta e trabalha em casa...dá seu jeito! O professor não é máquina e tampouco é passível de programação e desprogramação. Ele é um ser indivisível, passível de erros, acertos, falhas, vitorias e principalmente, ele é de carne, osso e sentimentos. É preciso que a categoria mais do que nunca, se solidarize uns com os outros e promovam ao menos “bate papo” virtual. O professor precisa de um espaço para dizer abertamente o que sente, como sente, porque sente e tudo o mais que estiver permeando sua mente neste momento. Esse falar precisa ser libertador e sem “moderadores”, é preciso falar sem o medo de ser julgado, sem ter que ficar imaginando se esse ou àquele irá censurá-lo. Muito se fala dos alunos que não têm essa e aquela ferramenta e se encontra em condições precárias em suas casas. Mas, e os professores? Desde a escola particular à escola pública, eles também têm suas dificuldades, sejam elas financeiras, sociais, tecnológicas, etc. Muitos não dominam a linguagem tecnológica, pagam aluguel, não contam com a ajuda de um(uma) companheira para ajudar, não possuem celulares de última geração com uma boa resolução de câmera ou ainda, moram em lugares mais abastados onde mesmo com um wi-fi pago, o sinal é de longe o necessário para garantir o acesso às vídeo-aulas e para acompanhar o que é proposto pelo Ministério da Educação junto aos órgãos reguladores. A síndrome de burnout, mais conhecida como a síndrome do esgotamento físico e mental, é muito comum entre professores e apresenta diversos sinais nem sempre tão claros para si mesmo e para os que estão ao redor. Por isso é necessário que em tempos em que não podemos sair de nossas casas, ou pagar por terapias, que possamos ao menos desabafar sem o medo de sermos julgados. O termo burnout, do inglês, significa aquilo que deixou de funcionar por completa falta de energia. Simbolicamente, é aquilo ou aquele que chegou ao seu limite, com grande comprometimento físico ou mental. E é exatamente para que essa energia não se esgote, que precisamos de “válvulas” de escape. Portanto, fale! Fale sobre o que te deixa triste, irritado, nervoso, feliz, angustiado, preocupado, confortado, apaziguado com raiva ou à beira de um ataque de nervos. Tantos grupos de WhatsApp no celular, então procure filtrar as mensagens recebidas, as notícias sem fontes confiáveis, as correntes sem fundamentos e ria alto das piadas que chegam e das imagens que nos fazem esquecer um pouco essa enxurrada de informações. Procure falar, mas também saiba ouvir um colega quando necessário. Professor por natureza tem a necessidade de falar, de se comunicar, de se fazer ouvir. Quer gritar por causa do estresse ou do nervoso e fica reticente de te acharem louco? Respire fundo, coloque a cabeça (rosto) num travesseiro ou almofada e grite bem alto e sem medo. Você vai perceber que ficará mais leve e menos tenso. Outras atitudes que ajudam é dançar, ouvir sua música favorita, não se culpar pela conexão falhar ou demorar para entrar no “chat” ou na reunião virtual, tentar se organizar para ter uma forma de critério de execução de atividades, e não para ficar estressado por não conseguir cumprir o cronograma. Pensar que muitas coisas pelas quais está passando não depende de você, de sua vontade ou da sua falta de vontade. Mas sim, ocorre neste momento por consequência de uma crise mundial que irá sim, terminar em breve. E novamente, fale como você se sente ao final de cada atividade, nem que seja para você mesmo. Lembre-se: Falar é libertador!

Alexandre Muniz – Psicopedagogo e Neuropsicólogo Clínico
Abaixo, listo dois links de lugares que podem ajudar com uma escuta ativa gratuita ou com valores bem baixo do custo convencional.

https://www.instagram.com/escuta60mais/  (para pessoas com mais de 60 anos)

ENVELHECIMENTO...O QUE APRENDEMOS COM FLÁVIO MIGLIACCIO.




Tão triste quanto o fato do suicídio de um dos mais talentosos atores da teledramaturgia, é o fato de que aprendemos com ele sobre duas certezas: A primeira é que a velhice ainda é vista como uma ação de descarte das pessoas e a segunda; o quanto o Sistema é despreparado para ofertar realmente uma qualidade de vida para os idosos. Flavio Migliaccio disse que a humanidade não deu certo, e é a mais pura verdade. Numa situação como a pandemia, vemos ainda pessoas mais preocupadas em TER do que SER. Muitos fazendo o marketing de sua solidariedade ao invés de praticá-la. Ele com certeza se sentiu desvalorizado como profissional e como pessoa, pois diz que tinha a impressão de que foram 85 anos jogados fora. E você? Quantos anos jogados fora irá contabilizar? Se formos realmente esperar que o outro (irmão, marido, esposa, filhos, sobrinhos, etc.) faça algo por nós teremos a mesma sensação que Flávio, sabe por quê? Porque cada um é único e vive e sente de maneira única os seus sentimentos, inclusive a sua velhice. Quantas vezes olhamos para o espelho e percebemos uma ruga nova, compramos uma roupa e vemos que a numeração mudou ou que ao encontrar uma foto dos tempos de escola, o quanto tudo foi diferente do que imaginávamos? Envelhecer é inevitável, ficar velho é opcional. Você já ouviu essa frase? Ela até que faz sentido, desde que você tenha uma excelente aposentadoria, casa própria, um excelente plano de saúde e possa contar com programas de rejuvenescimento, academias, fisioterapia e por aí vai.

Encontrei outro dia um colega de escola dos tempos da 8ª série. Ele era lindo, popular, na moda e sempre rodeado de meninas e de outros garotos que queriam o “status” de o terem como amigo. Neste encontro, o sorriso era o mesmo, mas seu olhar do alto de seus quarenta e poucos anos, era triste, semblante cansado e com uma estrutura física que nem de longe lembrava o viço da juventude. Dois casamentos falidos e um filho lindo de viver. Mas ele, já não era o mesmo. Me perguntei: se aos quarenta e poucos anos ele está assim fragilizado, imagine quando chegar aos 70, 80, isso, se chegar. Ele foi o tipo de cara que não se preocupou com o amanhã, achava que seria lindo e jovem para sempre, jovem para sempre. Ficar velho é estar em desuso e foi isso o que Flávio, Robin Williams, Valmor Chagas, Ariclê Perez e muitos outros famosos (fora os anônimos), provavelmente se sentiram para chegar à conclusão de que a humanidade deu errado e que os anos que viveram, foram jogados fora. Será que a professora que lecionada em 3 períodos, a enfermeira que faz plantão em mais de um hospital, que o carteiro que trabalha até os 65 anos, que a mãe de 5 filhos que trabalha como diarista, que padeiro que faz o pão de todo dia, será que todos eles serão lembrados como deveriam? Será que serão amparados por sua família com amor, carinho, paciência, respeito e reconhecimento pelos anos que viveram e trabalharam em prol dos outros ou para os outros? Não saberemos ao certo, o que sabemos no momento é que envelhecer não é para qualquer um. 

É preciso ser muito forte para encarar a deterioração do próprio corpo dia a dia e tentar manter o mínimo de sanidade psíquica e emocional para isso. Lima Duarte fez um vídeo falando ao amigo: “Eu te entendo Flávio...”e quantos outros também o entendem e remotamente também imaginam que pôr um fim em tudo é o mais plausível? Cabe então aos que estão com esse indivíduo, esse ser humano, mostrar que sua jornada não foi em vão. Ajudar a perceber que o envelhecimento também traz consigo suas nuances positivas. Quais são essas nuances? Pode ser desde uma aposentadoria até a certeza de que construiu uma família com bases sólidas. Mas no fim das constas, nada disso importa e é efêmero se você não estiver em paz com você, com suas escolhas, decisões e com a certeza de que não depende de você o reconhecimento por tudo o que fez ou construiu em sua vida, seja no âmbito familiar, social, profissional, amoroso, enfim. Flávio finaliza sua carta dizendo: “Cuidem das crianças de hoje”. – Eu diria que é um desejo genuíno de que as crianças de hoje façam não apenas um mundo melhor, mas que tenham uma velhice digna nesse país. 

Quando a luta por uma perspectiva mais positiva da velhice começou a ganhar forças, verificou-se uma divisão dos estudiosos em gerontologia (que estuda o envelhecimento) que mantinha de um lado os defensores da velhice como uma fase de perdas e de outro os novos argumentos sobre este período com possibilidade da manutenção do engajamento ativo com a vida. Esse engajamento ativo se dá na medida em que hábitos saudáveis são incorporados à rotina desde já. Prática de esportes, ingestão de água, exercícios físicos, dietas mais equilibradas, acesso à cultura, ao lazer, a promoção de atividades que promovam o bem-estar físico, psíquico e emocional e principalmente, estar integrado e interagindo com os outros, sejam eles da família ou não. Evidências científicas corroboram com o argumento de que fatores modificáveis, como dieta e atividade física, interferem no processo de envelhecimento e podem intensificar ou amenizar os efeitos adversos decorrentes do passar dos anos (Peskind et al., 2014; Barton, 2014; Barton, 2013). Com este respaldo, as intervenções clínicas enfatizam a prática de exercícios físicos, a moderação de ingestão de bebidas alcoólicas, a cessação do hábito de fumar, a adequação da dieta, o envolvimento ativo com a vida, entre outras medidas, como meios de diminuir o risco de declínio físico e cognitivo na velhice. É importante que o idoso se sinta útil e não apenas amparado. 

Para dar o suporte necessário ao idoso, recomenda-se ler, estudar e pesquisar sobre o assunto, mas também se possível, fazer terapia; pois muitas vezes o processo de envelhecimento é doloroso também para quem o acompanha de perto. Estar amparado psicologicamente é fundamental para o cuidador e para quem está recebendo os cuidados. Em outro artigo, listamos algumas atividades que podem ajudar na rotina e com atividades para nossos idosos. 

Recomendo ainda sobre o assunto:
Livros: Velhice – Uma nova paisagem – Maria Celia de Abreu
Envelhecer – Histórias –Encontros – Transformações – Pedro Paulo Monteiro
Filmes:Shirley Valentine e outro filme é E se vivêssemos todos juntos?

Por favor, ajude a compartilhar/divulgar a página.
Alexandre Muniz - Psicopedagogo e Neuropsicólogo Clínico


Referências:

-Ministério da Saúde - MS. (2009). Estatuto do Idoso. 2. ed. rev. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, Recuperado em 20 de abril de 2015,

-PESKIND, E. R. et al. (2014). Influence of lifestyle modifications on age-related free radical injury to brain. JAMA Neurol. 71(9), 1150-1154

quinta-feira, 30 de abril de 2020

A importância do brincar.

Dicas para pais e professores...

Pensei em escrever sobre a importância do brincar na primeira infância, mas daí pensei um pouco, refleti e lembrei dos meus tempos de criança. Por que só na primeira infância? Ao que me lembro, brinquei de tudo: cobra-cega, pega-pega, esconde-esconde, garrafão, casinha, comidinha, estrela nova cela (estrear a nova cela), fingia que era detetive, monstro, feiticeiro, soltar pipa, professor, brincava de escritório, de fazer cabaninha com cobertor, de fazer sombras na chama da vela quando faltava energia elétrica e tinha ainda uma caixa de bugigangas super diversificadas. O importante era brincar. Eu brincava sozinho, com amigos imaginários, com os de verdade na Rua João Barroso, lá no bairro de Pedreira, Zona Sul de SP. Com isso, desenvolvi uma boa comunicação, uma boa imaginação, melhorei minha interação e pude ser capaz de elaborar muitas hipóteses sobre diversos assuntos. É preciso lembrar o quanto brincamos, do que brincamos e como fomos felizes durante as brincadeiras.

Só pode propor um espaço lúdico de qualidade, quem se engaja ou já se engajou em brincadeiras com materiais estruturados (os fabricados), não estruturados (caixas, potes, tampas de panela, vassoura, chaves, latas vazias, etc.) e com jogos coletivos (cirandinha, pular corda, mamãe polenta, passa anel, etc.) O brincar vai muito mais além do que simplesmente sentar e manusear jogos e celulares. Ele pede participação, investimento cognitivo, mudança de comportamento, cooperação e representatividade.

Em tempos (ou não) de pandemia, em que as crianças precisam ficar dentro de casa, é preciso promover o brincar para ajudá-las a desenvolver seu potencial emocional, físico, motor, intelectual e criativo. Winnicott (1975) diz que "a brincadeira é universal e é própria da saúde: o brincar facilita o crescer, logo a saúde". Por isso, promover brincadeiras é ajudar a promover a saúde, não apenas para crianças, para o ser humano de um modo geral. Ao brincar, as crianças não estão apenas explorando o ambiente à sua volta como também a desenvolvendo a sua própria identidade.

E como não é possível sair para brincar (devido a pandemia, chuvas, etc.) e o celular precisa (eu espero) de um tempo para ficar na mão da criança, uma forma é utilizar alguns materiais não convencionais que estão ao alcance de todos, e promover uma oficina junto às crianças. Uma dica, é mostrar o modelo, apresentar os materiais e deixá-las construir seus brinquedos, seus jogos. Interfira somente se a criança solicitar ajuda, ou se para a construção for necessário o manuseio de cola-quente ou objetos cortantes. Durante o processo, converse, demonstre interesse sobre o que a criança está fazendo, como pensou em fazer daquele jeito, por que usou tal material, etc.

Depois de construir, convide-a para usar, o brinquedo/jogo, tirar fotos para postar para os amigos, gravar vídeos do processo para incentivar outras crianças, etc. Não esqueça de que é preciso lembrar a criança logo no início da atividade, que depois de finalizar sua construção, deverá ajudar a organizar novamente o espaço e guardar o material que sobrou de maneira adequada.
Vou postar algumas imagens e links para inspirar!
Um forte abraço!
Alexandre Muniz – Neuropsicólogo Clínico e Psicopedagogo



https://youtu.be/dkQvniVnYIU


https://youtu.be/eVphBrbp-3s

















quarta-feira, 22 de abril de 2020

ESCOLA COMPANHIA DAS CRIANÇAS!

A Escola de Educação Infantil "Companhia das Crianças", ficava no bairro do Itaim Bibi. Aqui temos o registro de algumas atividades na gestão do Tio Alê, antes da venda da escola. Bons tempos!!!
Assistam ao vídeo e deixe o seu "like" rsrsrs


https://youtu.be/CT-UCGjJqPU

domingo, 19 de abril de 2020

Crianças em casa, o que fazer? Pandemia!


Novamente falamos sobre a rotina, que neste momento deverá ser readaptada por conta deste isolamento social, devido ao COVIDE19. Contudo, tê-las por perto é uma forma de ajudá-las a compreender o que está acontecendo no cenário atual. Para isso, não é preciso colocá-las para assistir ao telejornal, basta que você replique as informações de maneira lúdica, didática, de maneira suave para não as alarmar ou deixá-las preocupadas. O importante é não mentir, mas também não precisa amedrontá-las. Faça encenação com fantoches feitos de saco de papel, guardanapos, legumes, crie histórias com um final em que todos que fizeram a sua parte, puderam sair de casa pois uma vitória aconteceu; grave uma história no celular modificando a voz dos personagens; ou até mesmo a convide para participar e grave vocês fazendo as vozes dos personagens. O importante é mantê-las informadas, orientadas e acalmada sobre a situação. No mais, estabeleça uma rotina para estudos, mas nada de colocar o material sobre a mesa e mandar fazer um dever. É preciso supervisão de alguém que se disponha mesmo em auxiliá-la nas tarefas e na organização de seus materiais antes e depois das tarefas. Estabeleça também uma rotina para jogos, brincadeiras e TV. Já tentou jogos antigos? As crianças vão gostar de novas possibilidades de jogos, dependendo da empolgação e da motivação de quem irá propor. Tente:

- 3 marias
- trama de gato
-gato mia
-fantoche de meias velhas
-chá de bonecas e carinhos
- fazer cabaninha no quarto
- fazer receitas simples - biscoitos por exemplo
- sessão cinema com pipocas
- dobraduras - barco - gato - cachorro - cata-vento...
- construção com sucata (recorte e colagem)

Tudo o que não precisamos agora é deixar nossas crianças estressadas, o que seria prejudicial inclusive a longo prazo. Quando o estresse é vivenciado de forma intensa ou prolongada, pode trazer consequências psicológicas que prejudicam a saúde da criança, como: depressão, dificuldades de relacionamento, comportamento agressivo, ansiedade, choro excessivo, gagueira, dificuldades escolares, pesadelos, irritabilidade e insônia. As consequências também podem ser físicas, como: doenças dermatológicas, dores de cabeça e asma (LIPP, et al., 1991). Por isso a importância de observá-las, acompanhá-las e acima de tudo, compreendê-las e ser paciente.

Dúvidas? Entre em contato conosco!
Alexandre- Neuropsicólogo e Psicopedagogo Clínico.





A importância da rotina para as crianças!


A rotina é um elemento importante no dia a dia da criança, por dar a elas sentimentos de estabilidade e segurança. Também proporciona maior facilidade de organização espaço-temporal e a liberta do sentimento de estresse que uma rotina DESESTRUTURADA pode causar.
Criar uma rotina para as atividades da criança traz organização para a vida diária e ajuda a evitar momentos de correria ou estresse infantil. É importante lembrar que os pequenos não podem se sentir sobrecarregados e precisam de tempo para brincar livremente, descansar e fazer outras atividades sem programação prévia. 

Quando falamos em rotina, falamos também sobre os horários para dormir, levantar da cama, realizar as refeições diárias e assim por diante. Uma rotina bem organizada ajuda a criança a se situar no tempo e espaço, a adquirir noções de organização interna e externa, auxilia na manutenção de um estado de equilíbrio emocional e contribui para uma performance de rendimentos biopsicossociais. 

A falta de rotina pode causar irritabilidade, ansiedade, insegurança,desorganização e até frustração. Contudo, ressalva-se que mais do que dados num cartão, cartaz, ou roteiro de atividades, deve-se levar em consideração também as variáveis que poderão acarretar em situações atípicas na rotina. como por exemplo: o humor da criança, pré disposição orgânica (sem febre, dor, etc.), fator emocional (perdas, afastamentos, mudanças bruscas, etc) Nesses casos a rotina pode e deve muitas vezes, ser deixada de lado, para acolher a criança em sua necessidade e após um dia ou dois voltar à rotina.

PS: Não esqueça de que mais que horários para dormir, levantar, comer, tomar banho, estudar...a criança precisa de um tempo para ser criança, se sentir amada, bem-vinda e incluída.

Qualquer dúvida, entre em contato conosco!
Alexandre Muniz – Neuropsicólogo e Psicopedagogo Clínico


Rivalidade Fraterna!

A rivalidade não somente entre irmãos, acaba sendo fomentada de maneira negativa quando o adulto insiste em compará-los. É preciso lembrar que cada indivíduo é único e possui a sua própria subjetividade. Essa subjetividade é composta por suas competências, habilidades, facilidades, dificuldades e uma série de outras situações e processos que faz com a criança seja quem é e do jeito que é. Portanto, a comparação é prejudicial, ineficaz e acaba fazendo com a criança se senta inferiorizada ou super valorizada ao extremo. Em ambos os casos a criança é quem sofre.

Algumas dicas são:
-Certifique-se de que seus filhos sabem que são diferentes;
-Não compare seus filhos;
-Encoraje seus filhos a desenvolverem algumas atividades individuais;
-Promova atividades e situações em que seja preciso trabalhar em equipe;
-Nunca ceda ao favoritismo;
-Ensine seus filhos que o relacionamento sólido e saudável entre irmãos, pode durar para sempre.

Dúvidas? Entre em contato conosco. Promovemos palestras para pais e educadores, workshop, treinamento para professores e oficinas para crianças, jovens e adultos.
Alexandre - Neuropsicólogo e Psicopedagogo Clínico.



sábado, 24 de junho de 2017

Do fundo do Baú...

Organizando o consultório achei uma foto de um de meus aniversários. Este foi comemorado na Escola Companhia da Crianças, no bairro do Itaim Bibi em SP, claro, junto às crianças. Período maravilhoso como orientador educacional com o prazer de trabalhar ao lado de pessoas e profissionais estupendos. Como fui feliz ali!!!!
Alexandre Muniz - Neuropsicólogo e Psicopedagogo Clínico


O Fazer Psicopedagógico


“Para o Psicopedagogo, aprender é um processo que implica pôr em ações diferentes sistemas que intervêm em todo o sujeito: a rede de relações e códigos culturais e de linguagem que, desde antes do nascimento, têm lugar em cada ser humano à medida que ele se incorpora a sociedade.”(BOSSA,1994,pág 51)

Um profissional em psicopedagogia deve dominar as bases epistemológicas do saber psicopedagógico, com as suas noções básicas e os eixos conceptuais. Da mesma forma, deve conhecer as ciências auxiliares que contextualizam o seu desempenho profissional e todas as aplicações que estas abrangem relacionadas ao pensamento e ao desenvolvimento na sua condição de ser humano.

A psicopedagogia em seu cerne,  estuda os processos e as dificuldades de aprendizagem, tanto de crianças e adolescentes como dos adultos, fazendo uso das áreas da pedagogia, psicanálise, psicologia, antropologia e contextos culturais. Sua atuação vai muito além dos problemas, dificuldades e transtornos de aprendizagem. Ela é o instrumento que vai subsidiar o fazer, o aprender e promover as possibilidades metodológicas, práticas e didáticas de educadores. O fazer psicopedagógico está além de um consultório clínico, ou ainda de um olhar investigativo em sala de aula; ele se faz presente o tempo todo, desde uma anamnese simples ao mais elevado propósito de intervenção. 

O psicopedagogo é o elemento que permeará a liga entre o aprender e o como aprender, servindo ao propósito de alavancar no educador novas e melhores possibilidades de atuação prática e instigante por meio de estudos específicos, treinos didáticos, oficinas do pensar e da ação docente. Para que o "fazer psicopedagógico" tenha vida e seja um processo dinâmico, caberá ao profissional da psicopedagogia ter vivenciado práticas em sala de aula, em gestão e em intervenções individuais e em grupos. Dessa maneira, o mesmo terá condições de compreender a prática pedagógica, suas defasagens, seus acertos e entremeios, visando não somente auxiliar o professor, mas também orientar de maneira eficaz os familiares e a instituição, bem como, elencar a melhor forma de ofertar ferramentas aos alunos que os façam avançar em suas dificuldades para que estas sejam transpostas também em sua vida diária. 

O fazer psicopedagógico trabalha ainda com potencialidades par ao desenvolvimento e amadurecimento de habilidades junto ao indivíduo, seja ele criança, jovem ou adulto. Na dúvida, uma boa orientação psicopedagógica acerca de processos e estilos de aprendizagem, poderá e muito melhorar a qualidade do processo de aprendizagem, as relações que constituem o ambiente de aprendizagem no contexto escolar e familiar; dos processos de avaliação e consequentemente promover o "fazer psicopedagógico" como um dos caminhos para que todos possam melhorar e avançar em suas competências, habilidades e em seus vínculos. 
Alexandre Muniz – Neuropsicólogo e Psicopedagogo Clínico
Clínica Iluminnare- Psicologia e bem-estar.







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